Certamente você já experimentou alguma vez na vida aquele momento estranho em que você para e diz: caramba! que coincidência você falar disso justamente hoje! Pois é. Foi justamente esse tipo de coincidência que não tem a ver com uma relação de causa e efeito, que Jung, o psiquiatra e psicoterapeuta suíço que era também um grande estudioso de Astrologia, definiu como sincronicidade. Mas peraí, vamos começar do começo!
Existem situações na vida cuja consequência é facilmente associável a uma causa qualquer. Por exemplo, digamos que você tenha ido conhecer um restaurante novo de comida mexicana e, depois de comer um monte de pimenta, teve uma dor de barriga. A conexão entre ambos os fatos é facilmente identificável: a comida diferente foi a causa da sua dor da barriga. E a sua dor de barriga foi a consequência da comida apimentada.
Em alguns outros casos, causa e efeito podem ser um pouco mais difíceis de identificar, mas ainda assim, com algum esforço, a gente consegue! Por exemplo, digamos que você passe por uma situação de forte stress na vida como a morte do seu gatinho por atropelamento. E depois disso repara que começa a dormir super mal, a ter insônia e outros problemas do gênero que, mesmo sendo mais subjetivos, ainda podem ser relacionados à causa: a morte do seu gato por atropelamento. A experiência dolorosa de perder o seu bichinho de um jeito trágico foi a causa que desencadeou em você esses problemas de ordem mais sutil.
E assim podemos exemplificar infinitamente com causos diversos de causa e efeito, daqueles mais escrachados àqueles que exigem uma investigação mais profunda devido ao seu caráter subjetivo ou ao tempo e espaço da sua concretização.
Nada disso tem a ver com sincronicidade. Pois sincronicidade nada tem a ver com uma relação de causa e efeito. Como Jung brilhantemente definiu, ela “é a união de eventos internos e externos de uma maneira que não pode ser explicada por causa e efeito e que seja significativa para o observador.” É um pouco complexo, mas é simples!
Digamos que um certo dia, na sala de espera do dentista, a pessoa ao lado estava ao telefone contando para alguém o quanto conhecer a medicina ayurvédica tinha mudado a vida dela. Você, que nunca tinha ouvido falar sobre medicina ayurvédica ficou com uma pulga atrás da orelha, mas abstraiu. Dias depois, o namorado da sua prima comenta durante o jantar de aniversário da sua mãe que um dos maiores nomes da Ayurveda vai estar no Brasil para um intensivão justamente na cidade onde você mora. Somente esses dois fatos acausais já seriam chocantes. Mas piora bastante quando uma amiga sua que mora fora do país e com quem você não falava há anos manda um Whatsapp convidando você para um café: ela avisa que está na cidade pois trabalha como assessora dessa pessoa pica das galáxias em Ayurveda.
Qual é a conexão direta entre todos esses fatos? Nenhuma a não ser o significado que, juntos, eles assumem para você!
Sincronicidade, de forma simples, é quando dois ou mais eventos se comunicam entre si no tempo ou no espaço sem que haja uma causa em comum, mas com um significado para as partes envolvidas. É, portanto, uma coincidência significativa. Para Jung, o significado, o sentido dessa coincidência é que faz dela uma sincronicidade.
No seu livro intitulado “Sincronicidade”, ele entende que de fato para nós ocidentais é um pouco difícil se abrir a esse tipo de percepção extra-sensorial das coisas. E então ele se volta para os ocidentais, pontuando que a civilização chinesa, muito mais antiga que a nossa, sempre pensou de um modo muito diferente. Afirma que é somente na esfera da astrologia, da alquimia e dos procedimentos místicos que não existem tantas diferenças de princípios entre a nossa maneira de ver as coisas e a dos chineses.
E nessas ele traz o conceito de Tao, presente na filosofia chinesa desde tempos imemoriais. Os jesuítas traduziram Tao como sendo Deus. Mas Jung prefere a tradução de Richard Wilhelm, que interpretou Tao como sendo SENTIDO. Jung explica que esse conceito domina tanto o modo de pensar como também a concepção de mundo dos chineses. Enquanto aqui no ocidente seguimos fissurados na relação de causalidade entre as coisas para que elas façam sentido, de acordo com a filosofia do Tao, onde existe sentido, então existe ordem! Simples assim.
Jung traz uma afirmação muito bonita de Chuang Tze a respeito dessa compreensão conectada das coisas do Universo: “quem usa a intuição, usa o seu olho interior, usa o seu ouvido interior para penetrar as coisas e não tem a necessidade de conhecimento intelectual”. Ou seja, a intuição nos conecta com um saber superior, muito mais preciso e verdadeiro, visto que une todas as pequenas coisas ao todo. Jung diz que Chuang Tze faz ali uma alusão ao saber absoluto do inconsciente, ou seja: à presença no microcosmo de eventos macrocósmicos. Todos nós como pedacinhos de um todo maior que também carregamos dentro de nós e com nós se comunica. Não é lindo?
A gente costuma ficar muito preso à linearidade dos processos. Nossa mente ocidental tem dificuldade de entender como eventos aparentemente desconexos se relacionam de forma tão curiosa na nossa vida. Mas estar atento a esses sinais pode ser essencial para nos ajudar a definir os próximos passos da nossa jornada de uma forma muito mais alinhada com o que está disponível pra gente. Prestar atenção nas sincronicidades da vida faz com que a gente experimente esse fenômeno com mais frequência e se alinhe ao flow, ao fluxo do Universo.
Existe uma inteligência maior coordenando o espetáculo da vida, e se você me leu até aqui, deve acreditar nisso também.
Nós, seres humanos, é que temos uma compreensão limitada sobre o todo e esperamos sempre que as coisas aconteçam de uma forma linear, racional e causal, seguindo uma espécie de passo a passo, receita de bolo. Mas não é assim que funciona pro Universo, esse lugar infinito no qual todas as possibilidades são possíveis. No qual todas as possibilidades JÁ coexistem.
Estar atento às sincronicidades, portanto, é uma forma de entender como o Universo se comunica com a gente. Como o TODO se conecta com a gente, e como a gente se conecta com o todo!
Por isso a importância de que estejamos atentos aos sinais. Às vezes eles chegam através de uma música ou de uma frase de um livro. Outras vezes chegam por meio de uma conversa que não é nem com a gente! Pode ser que o Universo se comunique com você através do diálogo de um filme, de uma chuva que cai na hora certa, de um comentário aleatório da atendente da padaria. Não existe relação de causa e efeito, lembra? As sincronicidades dependem do significado que as coincidências têm na sua vida, na sua realidade. E para atribuir significado às coisas que acontecem todos os dias, o tempo todo, é preciso estar prestando atenção. É preciso estar presente! E a mágica desse processo todo é que quanto mais atentos estivermos para prestar atenção quando estamos diante de uma coincidência significativa, mais começamos a perceber que elas chegam sempre e de todos os lugares.
E se a sincronicidade é a linguagem do universo, então quanto mais fluentes nos tornamos nesse idioma, mais fácil se torna a nossa comunicação com o todo, com Deus, com o Tao, com o macrocosmo. Consequentemente, mais fácil e fluida se torna a nossa vida, pois passamos a tomar nossas decisões mais conscientes e alinhadas com essa inteligência superior que é ao mesmo tempo o nosso próprio centro. Não é fantástico? Até a próxima! Ciao Ciao
“Devemos nos arriscar nos ângulos mais obscuros e encontrar a coragem de sacudir as prevenções da nossa concepção atual do mundo se desejamos alargar as bases do nosso conhecimento da natureza” (Jung)
