A doce entrega de conhecer o mundo sem compromisso

Jávim pra Veneza algumas vezes, já fiz os tours clássicos e já fiz tour nenhum. Sempre que troco ideia com alguém sobre viajar digo a mesma coisa: cada um viaja como quiser. Eu faço minhas trips despreocupadas hoje em dia porque já fiz muito ponto turístico. Já entrei em nem sei quantas Igrejas. Já visitei os maiores museus do mundo e me orgulho de feitos tipo ter passado cinco horas e meia no Louvre estudando muito sobre a história daquela arte toda que se me perguntar não lembro de absolutamente nada, mas confio que esteja aqui dentro em algum compartimento desconhecido servindo a algum propósito invisível. Conheci e me apaixonei por Van Gogh dentro mesmo do museu dele, em Amsterdam. Subi a escadaria da Torre Eiffel de noite e assisti às luzes de Paris lá de cima. Senti alguma coisa dentro de mim remexer em lembranças que nem eram minhas na Acrópole de Atenas, na Grécia. Me espremi em Buckingham pra ver a troca da guarda da Rainha e fiz bolha no pé em Veneza procurando a Piazza San Marco. Por muito tempo levei bem a sério essa coisa de viajar. Mas existe outro lado que eu não via quando tava ocupada levando tudo muito a sério: o lado fácil! Desde que vivi a mutação genética que me faz querer viver numa vila gelada de 400 habitantes no alto de uma montanha, passei a ser uma viajante mais relaxada, dessas que vai até a Escócia e não entra no Castelo de Edimburgo porque aceitou que não fica feliz vendo armadura medieval com cara de interesse. E tudo certo. Sobre Veneza, já tinha melhorado na terceira. Mas meio que me apaixonei depois de ontem. E o que eu fiz demais foi só viver sem pressa e sem roteiro. De osteria em osteria, experimentando cicchetti de todos os sabores, conhecendo pessoas e parando pra sentar no sol sempre que possível. Essas coisas que a gente não precisa nem perguntar pra ninguém como faz ou onde encontra ou quanto custa e que, como eu vejo hoje, fazem muito mais sentido que todas as outras: a entrega de permitir que o mundo nos surpreenda sem agenda, sem compromissos.