Blog Babih Vanzella

Um espaço acolhedor, inspiracional e reflexivo

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As dificuldades de viver num mundo competitivo quando você não é uma pessoa competitiva

“A poesia está guardada nas palavras – é tudo que eu sei./Meu fado é o de não saber quase tudo./Sobre o nada eu tenho profundidades./Não tenho conexões com a realidade./Poderoso para mim não é aquele que descobre ouro./Para mim poderoso é aquele que descobre as insignificâncias (do mundo e as nossas).” [Manoel de Barros, “Tratado geral das grandezas do ínfimo”]

Háboatos de que o mundo que a gente conhece sempre foi meio assim, competitivo. Os próprios animais competem pela fêmea, pela presa, pelo alimento. Foi assim que chegamos até aqui, sempre competindo em alguma medida.

Mas mesmo tendo desembarcado neste planeta do “e que vença o melhor”, existem pessoas que simplesmente não são competitivas, não têm dentro de si a fagulha de querer ser “o melhor”, de querer chegar em primeiro. Algumas pessoas não partem para a guerrilha, ficam ansiosas quando impelidas a competir e recuam diante da batalha, ainda que acreditem nas suas capacidades pessoais e profissionais. Ainda que sejam muito boas.

Tem muita gente misturada por aqui que acredita num mundo que acredita no outro, que traz dentro de si valores e crenças diferentes, mas sem saber muito bem o que fazer com isso porque, nos dias de hoje, sobra o que exatamente a quem não compete?

Exigem de nós que tenhamos muitos certificados, cada vez mais certificados. Se para a geração de nossos pais um diploma universitário era o passaporte para Pasárgada, hoje é apenas pressuposto. Parte-se daí para o infinito. É preciso ser muito especialista em alguma coisa se você almeja adentrar à selvageria do mercado de trabalho em busca de um lugar ao sol.

O que você lê, no que acredita e como se expressa diante da vida não interessa muito para um sistema que quer comer o seu cérebro.

No documentário “Observar e Absorver”, o incrível ser humano Eduardo Marinho conta que, quando adolescente, participou de uma competição de bicicleta. Muito embora não fosse nenhum profissional, acabou ficando entre os quatros primeiros colocados e, quando se deu conta que poderia conquistar o terceiro lugar e acessar o pódio, acelerou e deixou outro menino para trás — desolado, arrasado, chorando no asfalto porque, com a derrota, tinha perdido uma bolsa de estudos. A corrida era muito mais importante para esse menino do que era para Eduardo, que só ganhou por ganhar.

Eduardo Marinho conta no documentário que ficou péssimo diante daquilo e que, naquele momento, entendeu que não queria isso pra ele. Não queria competir. Não queria que a felicidade e as conquistas dele dependessem das infelicidades e das perdas de outras pessoas. Que espécie de felicidade era essa, afinal.

E foi (também) a partir dessa compreensão que Marinho deixou tudo – absolutamente tudo – para trás aos 19 anos de idade e foi viver na rua. Largou uma vida de bacana, como ele mesmo diz, e foi conhecer o mundo a partir do olhar de quem não tem nada, de quem está fora do jogo, de quem é invisível aos olhos dos competidores, de quem abriu mão de ser o melhor.

É claro que se trata de um exemplo extremo, de um ser humano extremo com uma história extrema. Mas mesmo quem não tem o desapego, a coragem e a compreensão de vida que tem Eduardo Marinho pode igualmente sofrer e se sentir coagido diante de tanta competição.

Ter de ser o melhor sempre e em tudo é exaustivo, já sabemos. Mas será que é mesmo necessário? Quem foi que disse? Até que ponto vale a pena? Por que você quer ser o melhor? Ser o melhor vai trazer a felicidade que você busca? Será? Vale a pena dedicar sua história, seu tempo todo buscando ser “o melhor”? Esse sonho é seu? Preenche a sua alma?

Essas são perguntas inquietantes (e irritantes) que nem todo mundo está disposto a fazer para si mesmo. Nem todo mundo está preparado para o choque que é descobrir que os seus sonhos, na verdade, podem nunca ter sido seus. Nem todas as pessoas estão preparadas para deixar a competição. Muitas precisam dela para sentirem-se vivas, inclusive. Competir pode ser o motivo para sair da cama de manhã para muita gente.

Mas é preciso saber que sempre existem alternativas, e mesmo que elas ainda não existam, podem ser criadas. Talvez você não fique rico seguindo por um caminho sem competição. Ao mesmo tempo, talvez você não precise largar tudo e ir morar na rua para fugir desse sistema doentio, caso você não se encaixe nele. Não existe uma receita, não há fórmulas, a vida não é matemática.

Eduardo Marinho, diante da acusação do pai de que lhe faltava ambição, respondeu que não havia ninguém mais ambicioso que ele, porque o que ele buscava ia muito além do que o dinheiro podia proporcionar, ele queria da vida absolutamente tudo o que pudesse levar dela. E o que se leva da vida exatamente? Os títulos, o dinheiro?

Finalizando, sempre vale a pena lembrar que Darwin não constatou, em sua pesquisa sobre a evolução das espécies, que sempre vence o melhor; mas sim que vence o que melhor se adapta. Talvez este nosso momento peculiar de existência, num mundo de exigências insanas, não seja o de sucumbir a essas exigências dando em troca nossa saúde, a maior parte do nosso tempo na Terra, mas sim o momento de se adaptar, de encontrar alternativas ao que está posto.

Talvez parar de querer “ser o melhor” e de ter que “vencer na vida” a todo custo, às custas da sanidade, da saúde e da paz de espírito seja uma opção alternativa de estrada a se considerar na direção da verdadeira vitória. Querer menos, quem sabe, seja parte da solução.

Prazer, Babih Vanzella

Sou astróloga e escritora. Minha missão é te auxiliar a despertar para as próprias potencialidades e te fazer ser capaz de tomar decisões e fazer escolhas muito mais alinhadas com a sua própria natureza e com o fluxo do Universo.

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